Conviver com o autismo no dia a dia é algo que atravessa todas as áreas da minha vida. Não é só em um detalhe ou outro, mas em tudo: maternidade, casamento, trabalho, fé, até nas tarefas mais simples.
Na maternidade, o autismo aparece no jeito que organizo a rotina com meus filhos, na dificuldade de lidar com estímulos quando todos precisam de mim ao mesmo tempo e, ao mesmo tempo, na sensibilidade que me permite enxergar o mundo de uma forma única com eles.
No casamento, os desafios também existem. Às vezes a comunicação falha, às vezes o excesso de sensações me sobrecarrega, e isso interfere na convivência. Mas também aprendi que, quando existe diálogo e compreensão, o autismo não é apenas uma barreira — pode ser também um convite para mais paciência, cumplicidade e amor real.
No mercado de trabalho, foi difícil. Eu não consegui me adaptar, e isso me trouxe muitas frustrações. Muita gente não entende que o fato de eu ser do lar não foi uma “desculpa”, mas uma escolha influenciada pelo autismo. Os ambientes profissionais exigiam mais do que eu podia oferecer sem me desgastar profundamente. Hoje eu sei que abrir mão de me encaixar ali não foi fraqueza, foi cuidado comigo mesma.
Na igreja, ainda é complicado lidar com as luzes, o som alto, os cheiros fortes, os abraços e toques inesperados. São coisas simples para a maioria, mas que para mim podem ser um desafio enorme. Mesmo assim, eu tenho sede de estar ali, de participar, de viver minha fé, ainda que precise encontrar meu próprio jeito de fazer isso.
E até nas coisas mais pequenas do cotidiano o autismo se mostra: andar sozinha na rua, procurar lugares novos, lidar com imprevistos. O que parece banal para muitos, para mim pode ser motivo de ansiedade.
Conviver com o autismo, para mim, é viver constantemente entre limites e descobertas. É pedir compreensão, mas também aprender a valorizar as formas diferentes de existir. E, acima de tudo, é seguir tentando, todos os dias, encontrar o meu lugar no mundo.