16 julho 2014

O escritor que há em mim (Penso Assim)

Hoje estava no ônibus quando todo esse texto veio em minha cabeça, palavra a palavra, como não acontecia há meses.
Um estupor de imaginação repentina. Uma febre forte e emoção no peito que iniciava o processo de criação que um escritor chamaria de inspiração.
Para os seres comuns (eis como chamarei os não-escritores) é difícil entender o que acontece nesses raros momentos em que a inspiração vem como um raro presente que a razão desconhece e a lógica é dominada por uma frenesi de criatividade.
Um escritor (é aqui incluo só aqueles que por algum motivo e destino ou presente divino nasceram com um talento ou dom único), é conhecido por três fases (que dura minutos, horas ou dias) que o perseguem ao longo da vida. Vou nomeá-las aqui como Bloqueio, Crise de inspiração e Criação.
Bloqueio: Trata-se do momento em que o dito escritor parece ter perdido seu dom. As palavras não saem e a mente parece ter sido capada (desculpa a comparação), e não há o que se possa fazer para que a inspiração volte.
Crise de inspiração: Acontece em geral no pós-bloqueio, e é caracterizada por um surto criativo sem razão que acontece em qualquer lugar. É nessa fase que surgem os bestsellers, e é também nele que acontece crises que não explicáveis.
Por exemplo, quando desci do ônibus hoje, meu surto dominou a razão, o sentimento e o físico e eu corri até em casa, numa busca desesperada por papel e caneta para que esse texto fosse escrito. Isso é o que se caracteriza o que chamo de surto literário.
Criação: Período em que ocorre a literatura literal (expressão estranha? É), ou seja, é o período em que a construção do material acontece e é criado os livros e narrações em si.
A grosso modo, é a fase em que o escritor é a máquina criativa que todo leitor/editora imaginam dele.

Ser escritor é criar mundos próprios. É brincar se ser deus (longe de mim falar blasfêmias! Estou apenas usando metáforas!).
Aliás, ser escritor fazer obras-lixo ou obras-primas. E sim, falo de uma mesma pessoa fazer as duas coisas.
Eu noto em mim, que minhas obras-lixo e obras-primas tem apenas uma característica diferente uma das outras: o livre-arbitrio dos personagens.
Ainda usando minha metáfora (não blasfêmia), Deus ao ter criado o mundo deve ter colocado em nós esse dom da liberdade, mais por entretenimento que por amor (ei, religiosos malas de plantão, estou usando metáforas!Quem me conhece sabe que o amor de Deus é a única coisa que me sustenta em pé!). Por que digo isso? Se o amor falasse mais alto, Ele teria salvo a todos. Mas a liberdade que ele nos deu só prova que ele queria ver o que fariámos com ela.
Ser escritor implica isso. Em minhas obras-lixo (não estou menosprezando o que escrevo, é minha forma de separar obras publicáveis daquelas que escrevo por puro hobby), eu faço o que quero com a história e seus personagens, o que sem sombra de dúvida, os transforma em "robôs" com minha personalidade, e obviamente, restringe a obra a personagens chatos e sem graça.
Em minhas obras-primas, aquelas que mais por sorte que por escolha, eu dou livre-arbitrio aos personagens, eu me distraio as escrevendo. Me torno não só a criadora, mas também espectadora dos atos dos meus personagens. Por muitas vezes, eu sinto vontade de xingá-los, aconselhá-los, fazê-los mudá-los de rumo.
"Mas você pode fazer isso, você os criou!"
Não. Absolutamente. Há momentos em que posso simplesmente observar os personagens sofrerem as consequências de seus erros estúpidos. Assim como, as vezes, quero colocá-los no colo e acalmá-los, dizendo que tudo vai acabar bem. Mas, infelizmente, tudo o que posso fazer é esperar que o tempo (ou páginas) passem para que eles fiquem felizes finalmente.
(Deus deve ser assim!)
Aí está a diferença entre o escritor e o ser comum.
Um ser comum olha para uma criança brincando, um casal namorando, dois amigos conversando ou um atleta correndo e vê nisso uma cena qualquer, ou no máximo um alvo de fofocas.
Um escritor vê em cada cena, uma história, uma frase, um motivo, uma série de personagens envolvidos que tornam o mundo mágico.
Um ser comum sobrevive. Os mais inteligentes até vivem suas próprias vidas.
O escritor vive a sua e a do mundo todo (e sem fofocas...).

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