23 abril 2025

Autismo (como descobri)

Eu sempre soube que eu era diferente.
Falei muito tarde. O isolamento sem escolha. A completa inabilidade de socializar. Meus problemas de "pressão baixa" sem mudança de pressão quando havia muito barulho, cheiro forte, luzes ou mesmo calor demais. Depressão e outros problemas que foram tratados isoladamente, sem que se investigasse nada a mais. Mas ainda assim, nada me preparara para um diagnóstico de autismo.
Eu tive um colega autista na primeira série. Ele era o gênio da matemática. Eu era a garota dos livros. Vivia isolada com uma pilha deles. Li cedo. Devorava livros. Mas tinha minhas fases da matemática também, especialmente na época das expressões numéricas.
Mas não imaginava o autismo.
Quando nasceu meu primeiro bebê, eu soube que ele era diferente também, desde o início. Ele não me olhava nos olhos. Não interagia muito comigo. Não tinha evolução normal como os outros bebês. Mas eu achava que a culpa era minha e da minha depressão pós parto. Mas não tirei da cabeça que talvez ele não fosse uma criança típica. 
Comecei a faculdade quando ele tinha um ano e meio. Logo no primeiro semestre, estudei a educação inclusiva, que focou em autismo por algum tempo. Eu tive uma surpresa grande ao perceber que me identifiquei com as características infantis. Nunca tinha prestado atenção nelas antes. Quando eu tentava meu "autodiagnóstico" anteriormente, sempre era com o que eu sentia AGORA, e então vinha depressão, ansiedade, um transtorno de personalidade qualquer. Não combinava com autismo (não com a maquiagem toda que eu fazia no dia a dia). 
Eu mesma ignorei as coicidências, porque achei "impossível" eu ter uma vida "normal" e ser autista. Na minha singela opinião nao-médica, eu nunca tinha tido uma crise, ou me incomodado com barulhos, hoje sei que estava enganada. Mas passei a brincar comigo mesma com as características que achava. Os padrões repetidos. As necessidades de rotina. Era uma coisa nova todo dia que achava. 
Comentei com minha professora que desconfiava do autismo e ela me encorajou a procurar ajuda. Eu ignorei de novo.
Então veio minha segunda gestação. Apesar de planejada e desejada, eu não levei muito bem a mudança e tive muito medo do parto e outras coisas. Tive uma crise gigante durante o banho (que eu até então achava ser crise de ansiedade) e resolvi ir ao caps. Lá mesmo, perceberam que eu tinha algo diferente nas minhas características e histórico. 
Com o tempo, comecei a insistir em médicos e tentar diagnóstico. Consegui um relatório de uma neuropsicopedagoga. O SUS não ajudou nenhum pouco. Tentei várias formas, mas nada ajudava. Nessa altura, já acreditava fielmente no meu diagnóstico, mas os médicos não concordavam comigo.
Em meio a luta pelo meu laudo, também lutava pelo meu filho. Ele também, foi visto como uma criança normal pelos médicos em que passamos. Ele era comportado, educado, não parecia autista. Mas isso mudou com os anos. No final da educação infantil, os professores começaram a notar algo diferente. No início do fundamental, se tornou caótico. Então nós obrigamos a pagar uma consulta e conseguimos o laudo depois de 8 anos. 
Com a certeza de que teria ajuda da mesma psicóloga que fez o relatório do meu filho, consegui o que precisava finalmente. Comecei tratamento com psiquiatra, e segui com a medicação até um ano atrás. E então parei.
Hoje sigo minha vida, tentando lidar com tudo através da dança e da minha fé em Deus. Tenho necessidade de rotina, não me dou bem com barulhos altos, cheiros fortes, luzes coloridas ou tremidas e calor para mim é algo insuportável. Tenho crises, as vezes gigantes que não tenho como controlar. A terapia eu fiz por mais de um ano, mas não tive mais condições de pagar, mesmo sendo um valor social. E essa tem sido minha vida. 
Hoje tenho 4 filhos, 3 deles são atípicos, só um tem um laudo. Sigo ajudando conforme posso, sendo professora, terapeuta, fonodiologa, nutricionista e enfermeira. É pesado para uma pessoa autista, mas foi a vocação que Deus me deu, e eu louvo a Deus pelas escolhas que fiz. 
Que Ele tenha orgulho de quem eu me tornei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário