22 julho 2013

Mãe, dou-lhe um presente (Conto)

E se o fato de o país ter acordado for um perigo para nós também? E se os países dominantes tivessem medo que o Brasil crescesse? Vou contar uma história que retrata o que podia acontecer...

- Mãe - os olhos de Dulce abriam-se aos poucos, sussurrando - Você está aqui?
A visão turva lhe permitiu perceber que não estava em casa, e sim, em um hospital. A sua volta se ouviam médicos e enfermeiros andar de um lado a outro, tentando ajudar os muitos pacientes.
- Dulce - sussurrou outra voz ao seu lado.
Ela virou-se na direção da voz tão conhecida. Aquela que chamava de mãe lhe sorriu, apesar de estar com o rosto muito ferido e ambas as mãos amputadas.
- Mãe, o que aconteceu? - sentiu um aperto no peito, algo ruim.
Olhou seu corpo, e viu que estava bem, apenas com alguns arranhões na pele. Tentou procurar Ana, sua irmã adotiva e melhor amiga, mas não a viu.
- Onde está Ana? - indagou.
A mãe, sem puder falar muito, disse tudo rápido e em um tom baixo.
- Dulce, nosso país foi bombardeado pelos americanos - ela explicou - Tiveram medo que o país crescesse, afinal, sabem que o Brasil tem poder para isso, e quando viram que o povo estava saindo da alienação... Bem, não importa, acho que você pode ver.
Dulce sentiu o peito fraquejar e mordeu a língua antes que a pergunta mais temida chegasse.
- Nossa casa foi completamente destruída. Ana fez o que pode para me salvar, e eu pedi que levasse você primeiro - ela sorriu - Deu certo, você está bem.
Dulce engoliu em seco, vendo que a mãe estava bem pior que ela, porque não pensou em si.
- Sua irmã voltou para me salvar,foi a hora que a última bomba explodiu - explicou, por fim - Ela não resistiu. Eu bem, você está vendo.
Lágrimas intensas transbordaram os olhos da menina. Pôde ver as pessoas por perto com membros amputados ou piores situações. Ela estava bem. Por fim, decidiu erguer-se e ajudar a equipe médica.
- Mãe - ela beijou-lhe o rosto e a testa, agradecida - Você me deu a vida duas vezes, estou dando a você um presente.
Lembrou-se com gosto de quando era uma menina de rua, que roubava para sobreviver, e tornou-se melhor amiga de uma menina deprimida e solitária. A mãe de Ana adotou-lhe como filha, e hoje, era uma garota de dezessete anos, e feliz, graças a isso.
Mas tudo isso foi levado pelas bombas.
- Não sou mais uma trombadinha, mãe - ela sorriu - Sou voluntária.
A mãe sorriu-lhe, e em uma crise de falta de ar, suspirou.
Dulce deitou a cabeça em seu peito, sentindo o coração parado da mulher que mais amava. Fechou-lhe os olhos, limpou as lágrimas dos seus, e foi fazer o seu trabalho.
- Vou te dar orgulho, mãe - ela prometeu - Mesmo que não esteja aqui para ver.

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