07 novembro 2013

O continente - Volume I - O tempo e o vento (Sobre o livro)

Mais um clássico.
Sempre me perguntava porque o autor levou tanto tempo (mais de vinte anos, se a memória não falha) para escrever apenas a primeira parte da triologia, denominada O tempo e o vento.
O continente se divide em dois volumes, na coleção nova, então vou falar aqui deles separadamente.
O livro é de uma estrutura ímpar. O capítulo 'O sobrado', que é onde a história termina, se fragmenta em pedaços, e entre ele se intercalam as histórias de toda a família Terra desde os avós da velha Bibiana, seus pais e sua linda história de amor.
Como o livro é assim tão fragmentado, vou tentar falar sobre cada um separadamente, em ordem cronológica, vamos lá.
A fonte - Conta a história de Padre Alonzo e a missão com os índios, suas dificuldades e o passado do sacristão. Numa noite normal, uma índia de outro lugar surge grávida, parindo o filho e morrendo, talvez da fuga dos castelhanos. Nasce um menino branco, e a índia morre. O menino fica com seu padrinho, Alonzo naturalmente, que lhe dá o nome de Pedro, e o cria com as artes que os índios aprendem naquele lugar. Quando Pedro está com nove ou dez anos, as missões passam para os portugueses, através do Tratado, e chega um carta aos padres que deixem o lugar com todos os índios e animais do lugar. Os índios se revoltam contra a ordem e lutam contra os portugueses, com bravura. Mas mesmo com toda a luta, os índios perdem as terras e muitos são mortos pelos brancos, que tomam o lugar para si. Pedro foge.
A história, apesar de ser na terceira pessoa, vem na visão do padre, que observa Pedro crescer com amor e compaixão. É a única história com "cara de clássico", na minha opinião, e por isso mesmo, a com mais História com H maiúsculo. É curta, objetiva e bela.
Ana Terra - Ana é uma moça de vinte e cinco anos que mora num sítio afastado com os pais e irmãos mais velhos. Sua rotina é lavar roupas e ajudar a mãe na cozinha, como se nada mudasse. Até que um dia, quando está lavando a roupa na sanga, vê um índio de pele clara, quase morto e chama os irmãos de imediato. O índio é Pedro Missioneiro, que fala meio castelhano e tem muitas habilidades. Acaba por fim, conquistando a família de Ana e ficando por lá, numa casa que ele mesmo constrói perto da sanga. Ana começa a desejar o índio, mesmo o odiando por isso. Mas numa madrugada, sem se aguentar, acaba indo a sanga e os dois tem relações. Tempo depois, Ana descobre-se grávida, e os irmãos matam Pedro, e fingem que Ana também morreu, juntamente com o pai. A mãe é a única que fala e ajuda Ana com Pedrinho, que cresce sem a atenção do avô. Mais de dez anos depois, castelhanos invadem a terra, matam os homens, estupram Ana e somem, deixando ela e o filho, além da cunhada e a pequena Rosa desamparados. Vão então para perto de Rio Pardo, onde o rico Ricardo Amaral está montando uma vila. E lá ficam até que case a cunhada, Pedrinho e Rosa. Pedrinho tem mais de uma vez de ir para a guerra, deixando Ana e a mulher esperando, como as mulheres faziam muito nesta época.
Numa narrativa rica de detalhes e emoções, além de personagens "vivos", Érico transborda os leitores com sua história, desesperando quem lê junto com Ana, ou chorando com ela, rindo com ela, e até mesmo tendo orgulho do filho que cresce. A história que ocorre no final dos anos 1700, trás uma vida sofrida e pacata de quem plantava e criava gado no Continente de São Pedro (o antigo Rio Grande do Sul), contando junto com a dramática história de Ana, a história de luta e trocas de dono que vivia nossas terras. Bem triste, mas também fazendo quem lê refletir sobre diversos assuntos (a chamada "honra" da família que se perdia com a mulher grávida, o trabalho quase escravo da mulher, e também dos próprios homens, que viviam a trabalhar o tempo todo, a violência com que tratavam as mulheres quando invadiam campos, e a longa jornada de espera das mulheres em meio a guerra), sempre enaltecendo as mulheres como foco principal, uma das características normais da trilogia toda. Numa mistura de drama, romance e desespero, a história de Ana Terra inunda o leitor.
Um certo capitão Rodrigo - Chega em Santa Fé, um certo capitão Rodrigo, que os homens logo de cara desconfiam, por suas vestes e seu jeito de ser. Sem medo, apesar de todos os conselhos para ir embora, Rodrigo teima em ficar, pois diz que está gostando de uma moça de lá, e quer se casar com ela. E claro, que Bibiana, a filha de vinte e dois anos de Pedro Terra, já está como várias das mulheres ali, perdida de amores pelo tal arrebatador de suspiros. E sem escolha, o pai dela autoriza o casamento, mesmo achando que a filha vai ser infeliz. Os dois porém, são felizes e vivem como namorados por muito tempo, tempo três filhos, porém Anitta morre, quando Rodrigo passa a noite jogando carta. Mesmo com as aventuras amorosas do marido, que Bibiana finge não saber, ela prefere continuar com ele, pois é feliz daquela forma. Quando a Revolução Farroupilha é declarada, o capitão foge com as tropas de Bento Gonçalves. Numa tentativa de tomar Santa Fé para os farrapos, Rodrigo leva um tiro nas costas de Bento Amaral, e morre.
É óbvio que como não poderia deixar de ser, essa é minha história favorita. Não só por ser meu personagem literário favorito o alvo da história, mas pela bela história de amor de Rodrigo e  Bibiana que arranca suspiros e emoções das leitoras mais românticas e até mesmo das menos românticas, como eu, que se apaixonam pelo hipnotizante capitão. 
Rodrigo é o tipo de personagem que encanta e vislumbra todos, personagens e leitores. Cafajeste, alegre, sorridente e do tipo "faço da vida o que quiser", é impossível não se apaixonar por ele, enquanto lê. É um personagem que nem o próprio autor nega que não conseguiu dominar, pois trata-se de um homem de espírito livre e aventureiro, que deixa saudade por onde passa.
O sobrado - Intercalado entre as outras histórias, conta a história do sítio que os maragatos fizeram em volta do sobrado, que pertence agora ao neto de Bibiana, Licurgo Cambará, uma mistura completa das personalidades de Bibiana e Rodrigo. Teimoso como era o avô, Licurgo deixa que a família e seus homens vivam de laranja e charque, já que não podem sair da casa sem levar um tipo. A pobre mulher de Licurgo, Alice, está grávida de nove meses, e sendo obrigada a parir na casa, a criança nasce morta.
Como ainda não terminou, não posso dar uma opinião completa a respeito, mas o que posso dizer até agora, é que o pouco que sei sobre os personagens citados da para perceber claramente suas personalidades como se os conhecesse a anos, até mesmo as das crianças, e da velha Bibiana. Toda a história é emocionante e acirrada, de forma que fiquei muitas vezes torcendo por um bom final. Vamos ver o que vai dar no final de tudo isso.


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