07 julho 2014

Say No To Racism (Conto)

P.S: A história se passa em 1946, mas ainda hoje existe o racismo. A diferença hoje, é que ele está oculto, enraizado em corações das mais diversas formas. Reflita.

Ser negro nos Estados Unidos é ainda um desafio. É viver como a ralé, a escória. Só nos aturam porque não tem escolha.
Desde o fim da escravidão, os norte-americanos tentaram nos expulsar. Como não puderam, passaram a nos ignorar, e como se não bastasse, nos insultam com seus separatismos.
Chamo-me Melinda Cloe Bill, tenho 22 anos, sou negra, jornalista e luto pela liberdade da minha cor e do meu sexo.
Onde trabalho na região mais "negra" do Brooklin, existe um jornal pouco lucrativo escrito e lido por negros. É lá que trabalho.
Mas estou hoje indo para uma entrevista que marquei ao telefone, para um jornal grande e de brancos.
Entrei no onibus, de cabeça erguida. Como sempre, na minha área o transporte ainda estava vazio de brancos, e por isso mesmo, só o fundo do veículo estava cheio.
Logo que chegou a área branca, uma mulher loira com uma criança no colo torceu o nariz ao me ver.
Eu rejeitei a frieza daquele olhar e procurei me acalmar, ergui-me calmamente e sentei no fundo com os outros negros.
Logo que cheguei ao prédio onde faria minha entrevista, vi diversos olhares de nojo na minha direção, e apesar da dor, eu me contive. Meu objetivo aqui ainda era mostrar que apesar da minha cor e apesar de ser mulher, eu era humana. E ainda mais, era uma jornalista cheia de sonhos, como qualquer outro ser humano que escolheu minha profissão.
E era um desses sonhos que eu estava tentando realizar aqui: entrar no New York Times.
Me identifiquei e o porteiro pareceu surpreso com minha cor. Claro, minha voz não denuncia minhas origens.
- Segundo andar, senhorita - ele disse, meio temeroso.
Subi, temendo ser mandada embora assim que me enxergassem. Fui recebida por uma loira bonita e séria. Estendi a mão para cumprimentá-la, ela olhou minha mão e ignorou.
- Espero que não tenha muita esperança, querida - ela sorriu fracamente - Ambiciono esse cargo há anos, e o perco sempre por um homem muito inferior. Mulheres não tem vez no jornalismo, você sabe, não é?
Fiz que sim com a cabeça. Coitada, deve sonhar tanto quanto eu. Maldito país machista.
- E veja - ela apontou o próprio pulso - Em questão de raça, ainda estou a sua frente.
Bufei. Não soube se ela era ou não racista, tudo o que fez foi dizer a verdade, como boa jornalista que era.
Depois de minutos de espera, um homem calvo e de óculos, muito bem vestido me chamou a sua sala. Me estendeu a mão que eu aceitei sorridente.
- Sente-se  - ele pediu e eu o fiz. - Como se imagina aqui dentro da NYT, senhorita Bill?
Como não senti nenhum sarcasmo, respondi.
- Quero mostrar que sou boa no que faço, senhor.
- E sabe que o fato de assinar como Melinda Cloe te trará alguns críticos, não sabe?
Fiz que sim. A maioria das jornalistas de renome assinavam como Antonios, Pauls, Johs e Peters.
- E sabe que será ainda maior se resolverem descobrir quem é a bela mulher por trás do nome, não é?
Respirei fundo.
- Não me importo que não gostem de mim. Não estou aqui pra fazer amigos. Não me importo que não me respeitem. Eu me respeito e isso parece ser respeito o suficiente pra mim.
Ele abriu um sorriso feliz.
- Bem vinda a equipe, Melinda.
A felicidade dele me assustou.
- Mas por quê? - eu fui obrigada a perguntar.
- Está mais do que na hora de esses preconceitos irem embora. Está mais que na hora que o racismo e o machismo serem apenas uma parte feia da História.

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