Minha casa ainda sangra.
O piso estala, o telhado geme, o forro guarda cicatrizes da lama que passou sem pedir licença.
Tem cheiro de mofo nas roupas que não dou conta de lavar,
tem poeira acumulada onde minhas mãos cansadas não alcançam.
Falta muita coisa: móveis, eletros, estrutura.
E sobra o peso de tudo que ainda não consegui consertar.
Mas aqui…
aqui reina um milagre.
É um milagre ouvir gargalhadas ecoando onde já houve silêncio de medo.
É um milagre ver crianças correndo onde já houve água invadindo tudo.
É um milagre haver paz — mesmo sem conforto.
E amor — mesmo sem espaço.
E alegria — mesmo sem estrutura.
Minha casa pode não ter brilho nos olhos de quem só vê com os olhos.
Mas aqui dentro há um brilho que só o céu enxerga.
Não é sobre o que falta.
É sobre o que ficou em pé:
ficou o amor, e isso basta.
Ficou a esperança, e isso move.
Ficou Deus conosco — e isso salva.
Minhas poesias também se foram na enchente. Todas as que eu escrevi na infância, adolescência, adulta. Perdi tudo na água. Fico feliz de estar escrevendo de novo. Até nisso Ele cuida de mim...
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